Abstract
Para compreender a relação de Adorno com a fenomenologia, ou melhor, a relação Adorno-Husserl, é importante distinguir dois momentos indissociáveis: (I) a crítica da fenomenologia operada a partir da dialética, e (II) o reconhecimento da legitimidade de um momento fenomenológico contra idealismo hegeliano. Do ponto de vista conceitual, trata-se, portanto, de desconstruir a primazia do imediato, que caracteriza o conceito fenomenológico do dado, para depois denunciar a pretensão idealista de uma totalização de todas as mediações em um sistema de pensamento. A coexistência desses dois requisitos no mesmo método poderia ter sido reduzida, se não a uma contradição, ao menos a uma aporia. O acerto de contas com o idealismo husserliano torna-se, portanto, prima facie, uma importante chave de leitura para a compreensão da filosofia de Adorno. Ainda mais quando se trata da forma negativa que sua dialética assumirá. Essas são as questões que este artigo pretende discutir.