Abstract
Quem se limita a ler apenas os dois primeiros livros do diálogo Sobre o Livre Arbítrio, de Santo Agostinho, escritos em sua juventude em resposta aos maniqueus, correrá o risco de pensar que está é a única e genuína concepção agostiniana de livre arbítrio/liberdade. Pois, até aquele momento Agostinho usa indiscriminadamente os termos livre arbítrio e liberdade como sinônimos, dando ao homem uma total independência em relação à graça divina. Entretanto, nas obras da maturidade, a começar pelo livro III do supracitado Diálogo, quando entram em questão em seu sistema filosófico-teológico os conceitos de pecado original e graça divina, Agostinho inicia uma progressiva distinção entre livre arbítrio e liberdade, na qual, num primeiro momento, na polêmica contra os pelagianos, o livre arbítrio aparece como parcialmente dependente em relação à graça divina, ficando a liberdade restrita apenas a pessoa de Adão, e, num segundo e último momento, na disputa com os semipelagianos, quando será acrescida à questão da predestinação, o livre arbítrio reaparece como totalmente dependente da graça divina. Aqui, paradoxalmente, com a cooperação da graça irresistível, os santos homens predestinados alcançarão a “verdadeira liberdade” em Deus. Eis o que iremos demonstrar no presente artigo.