Abstract
O tema da igualdade foi tratado ao longo dos séculos das luzes em par com o tema da liberdade, contudo nesta parceria a igualdade é considerada _condição para_, e não algo _a ser buscado por si mesmo_, ao contrário da liberdade. Esse tratamento, que quase tornou a igualdade um mal necessário, exigiu uma série de restrições – ou tropeços - que introduziram nova série de desigualdades entre os membros do Estado. Os tropeços a serem discutidos aqui dizem respeito à diferença entre a igualdade natural e inerente aos seres humanos e a igualdade civil construída social e politicamente, que transparecem no caminho percorrido pelo _Segundo Discurso _de Rousseau. Naquele _Discurso_, cada pessoa tinha por natureza as mesmas condições para viver independente do socorro do outro, mas desde que passaram a reunir-se e a singularidade de cada pessoa apareceu aos demais tiveram início as comparações e as preferências que as distinguiram umas das outras. Das distinções à desigualdade o caminho é curto, pois a estima pública supõe um juízo de valor acerca das habilidades que merecem ser honradas por todos e, em consequência, a diferenciação entre honrados e poderosos e aqueles que devem honrar e obedecer. A socialização parece, então, criar a desigualdade. Nosso propósito será, inicialmente, investigar o caminho da (des)igualdade entre a natureza e a sociedade com base no _Segundo Discurso_, para discutir, no âmbito do _Contrato Social_, as possibilidades de igualdade civil e sua relação com a liberdade.