Abstract
A partir da perspectiva dos três regimes de identificação das artes propostos por Jacques Rancière, a literatura ocupa um lugar central na superação do regime poético, ou representativo, pelo regime estético. Para Rancière, o realismo de escritores como Hugo, Balzac, Stendhal e Flaubert subverte as hierarquias e pressupostos normativos vigentes no regime poético das artes. A partir desses autores, qualquer assunto ou qualquer pessoa, isto é, pertencente a qualquer condição social, podem vir a ser tratados como objeto literário sério, o que pode ser encarado enquanto a democracia em literatura. Também se valendo de análises de Erich Auerbach, o presente trabalho tem por objetivo explicitar como esse processo se deu, tentando mostrar por meio de alguns exemplos a maneira pela qual a literatura passou a ser desenvolvida em um espaço no qual as hierarquias dos temas e das ocupações sociais são quebradas e no qual se passa a denunciar a igualdade sensível de qualquer um. De um ponto de vista político-filosófico, Rancière promove aproximações à universalidade do juízo estético kantiano e à posterior proposta de Schiller no que diz respeito a uma educação estética da humanidade que retira dessa igualdade sensível o princípio de uma nova liberdade.