Abstract
No contexto neoliberal, no qual imperam a cultura da auditoria e da meritocracia, a lógica do empreender-se a si mesmo e a visão de educação como mercadoria, convivemos com o mal-estar dentro e fora da docência. Nesse panorama, este artigo objetiva problematizar a racionalidade neoliberal vigente dentro e fora das salas de aula. Trata-se de uma análise discursiva de depoimentos de três professores de ensino superior sobre o cuidado (de si), a partir de ferramentas teórico-analíticas de Foucault, com o intuito de apontar em que medida os efeitos de sentido da responsabilização do sujeito por suas escolhas emergem em seus depoimentos. A análise remete-nos à presença dos modos de objetivação, por exemplo, às técnicas (pós-)modernas de gestão do tempo, qualidade muito apreciada no contexto neoliberal, na incessante busca da produtividade, da eficácia/eficiência e do empreendedorismo de si. Porém, a análise também sinalizou o desejo de cuidar(-se) mais e melhor, sendo a boa gestão do tempo vista pelos professores como uma das formas de realizá-lo. Embora tais estratégias estejam permeadas de/por técnicas neoliberais de governamentalidade, visando, de diversas maneiras, a conduzir nossas condutas, não objetivamos criticá-las, mas apenas descortinar de que maneira o uso de técnicas de gestão do tempo, paradoxalmente necessárias para (con/sobre)viver no mundo contemporâneo, nos conduzem de forma sub-reptícia. Nesse contexto, o cuidado de si, como entendido por Michel Foucault, no sentido de invenção de novas formas de vida poderia emergir como possibilidade de produzir contracondutas, apostando na relação consigo como uma alternativa, uma forma de resistência diante do poder, cuidado este, por vezes, sufocado pela competitividade generalizada que nos governa.