Atenção e método na filosofia de Descartes
Abstract
Em seu exame da teoria da verdade cartesiana, Raul Landim (1993, 2009) enuncia as três questões que toda teoria da verdade deve responder: (a) o sentido de ‘verdade’; (b) a possibilidade de conhecimentos verdadeiros e (c) a possibilidade do reconhecimento de conhecimentos verdadeiros. Os argumentos a serem apresentados dizem respeito sobretudo à terceira questão, mas consideram a necessidade de ser assegurar uma resposta adequada à segunda questão. Para tanto, retomarei (I) brevemente alguns pontos de um artigo anterior sobre o tema (2017) para, em seguida, dar prosseguimento ao estudo ali iniciado, que ainda deverá ser completado em um terceiro texto, sobre atenção, representação e intecionalidade. Com efeito, três contextos argumentativos são relevantes para o exame da noção de atenção: (i) o tratamento psicofísico da atenção; (ii) as condições para a busca da verdade, no qual a atenção designa, prima facie, uma modulação do pensar, que é relevante para o método; (iii) a explicação do caráter intencional do pensar humano, no qual a atenção é um aspecto do pensar concernente à seleção do conteúdo pensado no tempo presente (presença). Somente o segundo será considerado aqui. Após a retomada dos resultados anteriores, apresentarei indícios da relação entre a atenção e o conceito de intenção na história da filosofia que precede Descartes e, em seguida, farei uma breve análise das ocorrências do texto na obra cartesiana (II). Por fim, na seção (III), passarei à análise daquelas ocorrências ligadas ao método do filósofo, tanto no que se refere à sua intervenção na determinação do critério de reconhecimento da verdade (a regra geral da verdade, ou regra do claro e do distinto), quanto no esclarecimento da via analítica do método de demonstração geométrico.