Abstract
ResumoO presente artigo inscreve-se numa pesquisa constituída de duas etapas, das quais apenas a primeiraé aqui contemplada. Essa etapa consiste essencialmente num esforço por chamar a atenção para o queconsidero uma dificuldade conceitual relativa à noção de liberdade prática no pensamento de ImmanuelKant. Proponho que Kant trabalha com duas acepções distintas da liberdade que deve caracterizar oarbítrio humano, que são acepções dificilmente conciliáveis e cuja confusão torna problemático o projetofundamental de sua filosofia prática. Uma delas, conquistada argumentativamente nos seus textosfundacionais de filosofia prática, assimila liberdade a moralidade, dando ocasião ao problema da imputabilidadedas escolhas imorais. A outra, aparentemente pressuposta ao longo de todos os seus escritossobre o tema da liberdade e preferida quase unanimemente pelos intérpretes, equivale a uma concepçãomoralmente neutra de livre arbítrio. Contra ela, há de saída a explícita recusa do próprio filósofo quandochamado a se manifestar ex professo sobre sua legitimidade na Metafísica dos Costumes. Mas tento mostrarque, mais grave que isso, se trata de um conceito de liberdade que, a fim de garantir a imputabilidadede escolhas imorais, acaba tornando qualquer escolha inimputável.Palavras-chave: Liberdade, moralidade, imputabilidade, vontade, arbítrio.AbstractIn this paper, corresponding to the first of two parts of my current research, I endeavor to lay out aconceptual difficulty concerning the notion of practical freedom in Kant`s thought. I argue that the philosopherdeals with two distinct and conflicting meanings of the freedom of human choice, which rendersproblematic the fundamental project of his practical philosophy. The one, conceptually rooted in hisgrounding texts on freedom of the will, assimilates freedom and morality and ends up by making, primafacie, unconceivable free choices against morality, hence, renders impossible the imputation of immoralchoices. The other, apparently presupposed throughout most of Kant`s writings on freedom and almostunanimously cheered by the interpreters, amounts to a morally neutral conception of free choice. Againstit raises Kant`s declared refusal when provoked to express himself about it in the Metaphysics of Morals.Moreover, I argue it`s a concept of freedom that, meant to guarantee the accountability of immoral choices,ends up by making all choices unaccountable.